Depressão não é só coisa de adulto
Rodrigo Yacoub
Cada vez mais jovens estão desenvolvendo a depressão. Ela já atinge 450 milhões de pessoas no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, e estudos provam que esses dados devem aumentar com o tempo.
Para entender a depressão, é necessário entender de onde ela vem. “A depressão vem de um componente genético”, afirma a Profª. Fátima Vasconcellos, coordenadora de Psiquiatria da Escola Médica de Pós-Graduação da PUC-Rio. Mas não é só isso. “Esse componente é ativado por condições psico-sociais”, como as relações sociais, familiares e o ambiente à sua volta. “Toda a estrutura ao seu redor, se não for positiva, contribui para a depressão. A falta de apoio é, muitas vezes, um fator crucial para o seu organismo se tornar vulnerável a doença”.
Para a professora, a realidade urbana de hoje e a depressão de jovens podem ser ligados por uma mudança específica: a mudança no eixo da família. “Antigamente, a mãe estava sempre presente. Depois, a babá. Hoje, a babá ou a empregada doméstica que mora em casa não são figuras recorrentes para a maioria das casas brasileiras. Não existe mais uma figura, como no caso da babá, que pelo tempo, permitia a criação de laços e se tornava quase parte da família”, exemplifica Fátima.
“A atitude diferenciada que muitos têm em relação a doenças emocionais em contraponto a doenças físicas é uma das provas que a sociedade não leva a depressão à sério. É tido como drama”, enfatiza a psiquiatra ressaltando a importância de se tratar toda doença mental com mais seriedade. A desvalorização da doença e principalmente o preconceito em relação a doenças como depressão não afeta apenas as relações sociais: ela impede o diagnóstico precoce da doença, o que possibilitaria um tratamento mais efetivo. “O grande vilão da depressão é o preconceito. Como se estar deprimido fosse uma escolha; algo consciente. Depressão não é escolha. É doença”.
Em um artigo chamado “The burden of mental illness and addiction in Ontario” por S Ratnasingham, o médico, em parceria com a Public Health of Ontario e com o Institute for Clinical Evaluative Sciences explora a gravidade do dano que a doença mental provoca nos indivíduos. O peso da doença mental é 1.5x maior do que todos os cânceres e 7x maior do que todas as doenças infecciosas no indivíduo. Dados da OMS demonstram que a depressão em 2030 será a primeira das doenças a causar incapacidade.
Para diminuir as chances de desenvolver a doença, a recomendação é simples: cultive suas relações. “Estar num ambiente afetivo, com pessoas que te fazem bem e de bem consigo mesmo são as medidas à serem tomadas para prevenir da doença. Um almoço em família, um passatempo com os irmãos, primos, amigos. Cultivar as relações sociais e pessoais, como a religião, ajudam a pessoa a se afastar cada vez mais desse quadro”, explicita a professora.