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Arma genética pode ajudar no combate ao mosquito da malária

Clara Pires

Um estudo realizado pelo Instituto Pirbright, na Inglaterra, encontrou um gene masculino, identificado como Yob, no cromossomo Y do mosquito Anopheles gambiae, o vetor da malária que causa o maior número de mortes nos países africanos. Segundo os pesquisadores, o gene pode ser fatal para as fêmeas do mosquito transmissor da doença.

O Yob é o segundo gene semelhante a ser encontrado em insetos. O primeiro foi o Nix, identificado no Aedes aegypti, principal transmissor do zika vírus e da dengue. 

Segundo os pesquisadores, a descoberta pode ajudar a controlar essas doenças ao separar sexualmente machos e fêmeas e matar somente o segundo grupo. Isso porque só as fêmeas se alimentam com o sangue humano e a partir daí transferem parasitas e vírus de doenças para a corrente sanguínea das pessoas.

O estudo consistiu em fazer o sequenciamento genético de todas as mensagens químicas produzidas por embriões do mosquito. Os cientistas perceberam que o Yob fica ativo cerca de duas horas após os ovos serem postos, e antes de qualquer outro gene associado à determinação do sexo. A comparação revelou que apenas os machos tinham os fragmentos correspondentes ao Yob, mas que ele se mostrou capaz de matar as fêmeas a partir de seus “transcritos”.

A transcrição é o primeiro passo da expressão gênica – processo pelo qual a informação contida no gene é usada para sintetizar um produto funcional, em geral, proteínas – e copia um trecho do DNA na forma de RNA, especificamente, o RNA mensageiro. Embriões femininos injetados com o RNA transcrito do Yob não sobreviveram.

Outra função do gene considerada importante para o desenvolvimento embrionário é a de dosagem do nível de transcritos de genes localizados no cromossomo X. Nos machos, isso gera uma grande expressão gênica para compensar a existência de apenas uma cópia do cromossomo. Já nas fêmeas, que possuem duas, a presença do Yob leva a uma transcrição exagerada, e consequentemente fatal.

Jaroslaw Krzywinski, um dos líderes do estudo, diz que embora existam boas estratégias no combate à malária, é preciso ter um plano em diversas frentes para evitar que a doença se torne resistente. Segundo ele, como as estratégias genéticas exigem somente a liberação dos mosquitos machos, cria um obstáculo instransponível para se entender o controle genético de vetores da malária, já que não há uma forma de separar os sexos anopheles atualmente.

“Agora, a propriedade de matar fêmeas com o gene Yob nos dá uma valiosa ferramenta para a produção via engenharia genética de machos adequados para o controle da malária no futuro”, diz o pesquisador.

Steven P. Sinkins, cientista da Universidade de Lancaster, também na Inglaterra, concorda que a utilização do Yob para matar os mosquitos fêmea é uma possibilidade, além de ajudar na estratégia de lançamento de machos estéreis no ambiente. Porém, ele afirma que o custo equivalente é um proibitivo para a utilização em todo o continente africano. 

Apesar disso, a descoberta ainda é um sinal positivo para o auxílio de programas autossustentáveis. “Talvez essa seja a probabilidade mais excitante no contexto do controle da malária”, conclui Sinkins. 

Medicina PUC-Rio